
22/08/2025 | Redator
Se tem uma coisa que tira o sono de gestor público e fornecedor é a palavrinha “suborno”. Além de destruir reputações, um escândalo de integridade paralisa projetos, encarece compras e deixa marcas que custam anos (e milhões) para apagar. A boa notícia? Existe um caminho prático, reconhecido internacionalmente e auditável para reduzir esse risco: implantar um Sistema de Gestão Antissuborno conforme a ISO 37001. Vamos destrinchar, de forma direta e sem juridiquês, como essa norma ajuda a blindar contratações públicas e por que ela deve estar na pauta de quem compra e de quem vende para o governo.
Resumo em uma frase: a ISO 37001 não “garante” que nunca haverá suborno (ninguém pode prometer isso), mas estabelece controles robustos para prevenir, detectar e responder a riscos de suborno, e isso muda o jogo em licitações e contratos.
O que é a ISO 37001 (e o que ela não é)
A ISO 37001 é uma norma internacional que define requisitos para implementar um Sistema de Gestão Antissuborno (SGAS). Ela orienta políticas, procedimentos, avaliações de risco, due diligence de parceiros, controles financeiros e não financeiros, canais de denúncia, investigações internas e melhoria contínua. Em português claro: ela organiza a casa, documenta o que precisa ser feito, mostra como monitorar e corrige rota quando necessário.
Importante: a ISO 37001 não substitui leis nem órgãos de controle. Ela também não é salvo-conduto. É um framework de gestão que aumenta a capacidade da organização de prevenir e reagir a tentativas de suborno – e isso pode significar a diferença entre um “quase incidente” e um caso de polícia com manchete e multa.
Por que a ISO 37001 é estratégica nas contratações públicas
1) Reduz risco real de fraude e desvio
Contratações públicas são grandes, complexas e envolvem muitos atores. A ISO 37001 exige mapeamento de riscos por processo, segregação de funções, controles sobre pagamentos/benefícios e due diligence de terceiros (fornecedores, representantes, parceiros). Na prática, fica mais difícil alguém “burlar a fila” sem deixar rastro e sem gatilhos de alerta.
2) Fortalece governança e transparência
Com políticas claras (proibição de presentes, hospitalidade, facilitation payments, etc.), registros auditáveis e canal de denúncia com proteção ao denunciante, a norma cria um ambiente em que o custo do comportamento desonesto sobe e o benefício despenca. Isso gera confiança – item cada vez mais valorizado por órgãos públicos, tribunais de contas e pela sociedade.
3) Ajuda a cumprir a Lei Anticorrupção
No Brasil, a Lei nº 12.846/2013 (Lei Anticorrupção) prevê multas de até 20% do faturamento bruto para empresas envolvidas em atos lesivos contra a administração pública – além de outras sanções como publicação extraordinária da decisão e proibição de receber incentivos. Ter um programa de integridade efetivo conta (e muito) na dosimetria da penalidade. A ISO 37001 é alinhada às boas práticas que a própria administração pública valoriza em programas de integridade.
4) Diferencial competitivo em licitações
Órgãos compradores estão cada vez mais atentos a critérios de integridade e à conformidade de seus fornecedores. Apresentar processos auditados conforme a ISO 37001 é um sinal inequívoco de maturidade de compliance – e muitas vezes desempata uma disputa entre propostas tecnicamente equivalentes.
Contexto que ninguém pode ignorar
O Índice de Percepção da Corrupção (CPI) 2024 da Transparência Internacional mostra que a América segue pressionada por casos de corrupção, e o Brasil aparece com 34 pontos numa escala de 0 a 100 (quanto mais baixo, pior a percepção). O recado é claro: controles anticorrupção não são “nice to have”, são “must have”.
O que a ISO 37001 pede, na prática (checklist do gestor)
Segundo ISO/ TC 309:
Compromisso da alta direção: política antissuborno assinada, objetivos mensuráveis, recursos e exemplo pelo topo.
Avaliação de riscos: identificar, classificar e tratar riscos por área (licitação, fiscalização de contrato, interface com agentes públicos, patrocínios, doações etc.).
Due diligence de terceiros: checar histórico, beneficiário final, sanções, PEPs, reputação e controles do parceiro antes de contratar.
Controles financeiros e não financeiros: dupla checagem, limites de alçada, registro de hospitalidades, controle de doações e patrocínios.
Treinamento e comunicação: capacitação periódica, linguagem acessível e campanhas internas (e para parceiros críticos).
Canal de denúncia e investigação: confidencial, acessível e com tratamento imparcial das apurações.
Monitoramento, auditorias e melhoria contínua: indicadores, auditorias internas e externas, tratamento de não conformidades.
Nova ISO 37001:2025 – Sistema de Gestão Antissuborno – Pouca revisão, muitos desafios
“Vale a pena o esforço?”
Benefícios tangíveis
- Redução de perdas (multas, rescisões, retrabalho, paralisações)
- Mais competitividade: confiança do contratante e melhor pontuação reputacional.
- Acesso a mercados: certas estatais, bancos e organismos internacionais preferem parceiros com sistemas de integridade maduros.
Benefícios intangíveis (que viram tangíveis)
- Reputação e marca: o ativo invisível que segura a barra quando há ruído.
- Cultura interna forte: equipes mais conscientes, menos cinismo organizacional, melhor clima.
- Decisões melhores: com risco mapeado, decisões deixam de ser improviso.
E o custo? Trem de pouso é caro mesmo… mas mais caro é cair. Entre consultoria, treinamento, auditoria e ajustes de processos, a conta se paga quando você evita um único incidente sério, para não falar em multas que podem chegar a 20% do faturamento bruto.
Como a ISO 37001 atua ao longo do ciclo da contratação pública
Planejamento da compra
- Avaliação de risco do objeto, definição de critérios técnicos objetivos, vedação a especificações restritivas, matriz de risco clara.
- Due diligence de fornecedores críticos antes de editar o edital (quando aplicável a credenciamentos/cadastros).
Fase de licitação
- Regras de interação com licitantes (registro de reuniões, acompanhamento por áreas distintas).
- Mapa de riscos para lobby irregular, troca de informações privilegiadas e conluios; gatilhos de auditoria.
Gestão e fiscalização do contrato
- Segregação entre quem contrata e quem fiscaliza.
- Controles de medição, aditivos e pagamentos; checklist de hospitalidades/benefícios; canal de denúncia para fiscais e terceiros.
Pós-contrato
- Avaliação de desempenho do fornecedor com componente de integridade.
- Registro de lições aprendidas para realimentar a matriz de riscos.
“Mas dá para começar pequeno?”
Dias 1–30: Diagnóstico e plano de ação
- Gap assessment em relação à ISO 37001; priorização de riscos (top 5).
- Publicar política antissuborno e ajustar o código de conduta.
Dias 31–60: Controles mínimos viáveis
- Implantar due diligence básica para terceiros críticos.
- Criar matriz de alçadas, trilho de aprovação e registro de hospitalidades/doações.
- Abrir canal de denúncias (com governança definida).
Dias 61–90: Treinar, testar, auditar
- Treinamento focado nos processos de licitação e gestão contratual.
- Simular investigação e resposta a incidente (tabletop exercise).
- Definir indicadores e plano de auditoria interna.
Ao final desse ciclo, você já terá um SGAS funcional, pronto para evoluir rumo a uma certificação, se fizer sentido para a estratégia.
Como isso conversa com o cenário regulatório brasileiro
Lei 12.846/2013 (Lei Anticorrupção) + Decreto 8.420/2015: baseiam a responsabilização objetiva de empresas por atos contra a administração, inclusive multas de 0,1% a 20% do faturamento bruto e outras sanções administrativas. Programas de integridade efetivos contam na dosimetria.
Práticas de integridade convergem com recomendações de organismos internacionais e relatórios de percepção de corrupção – onde o Brasil ainda tem espaço (e urgência) para avançar.
Erros comuns (e como evitá-los)
- Norma de papel: política bonita, prática fraca. Solução: riscos e controles no processo, não só no manual.
- Canal de denúncia sem confiança: sem anonimato e sem retorno, ninguém usa. Solução: governança independente, resposta ágil e comunicação dos resultados.
- Treinamento genérico: causa sonolência e pouco efeito. Solução: conteúdo por função (compras, jurídico, fiscalização, fornecedores).
- Due diligence “pro forma”: checklists vazios. Solução: cruzar bases públicas, sanções, PEPs e histórico real do parceiro.
- Falta de medição: sem indicador, não há gestão. Solução: KPIs de tempo de resposta, incidência por área, % treinados, ações corretivas.
E os fornecedores? O que ganham com isso?
Muitos contratos públicos exigem (ou valorizam) padrões de integridade. Empresas certificadas ou alinhadas à ISO 37001 tendem a reduzir risco de inidoneidade, melhorar nota técnica em compliance e acessar oportunidades em estatais, bancos de fomento e organismos internacionais que já premiam a maturidade de integridade. É reputação que vira receita.
Como a Solarplex pode ajudar
A Solarplex atua como parceira de implementação: diagnóstico, desenho de controles críticos (licitação, gestão contratual, patrocínios/doações), due diligence de terceiros, treinamento por função, canal de denúncias, investigação interna e preparação para auditoria, tudo alinhado à ISO 37001 e ao arcabouço brasileiro (Lei 12.846 e Decreto 8.420). Nosso foco é tirar a norma do papel, integrar controles ao dia a dia e entregar evidências que sustentem a efetividade do SGAS em auditorias e fiscalizações.
Conclusão
Integridade em contratações públicas não é só compliance; é eficiência do gasto público, previsibilidade para fornecedores e confiança para a sociedade. A ISO 37001 oferece um mapa nítido para construir esse ambiente: políticas claras, riscos conhecidos, controles vivos, denúncia protegida e melhoria contínua. Em tempos em que o noticiário lembra diariamente o custo da corrupção e os índices internacionais reforçam a urgência, adiar esse movimento é correr risco desnecessário. Implementar é amadurecer – e colher o resultado em segurança jurídica, competitividade e reputação.
Se você quer reduzir exposição, organizar processos e elevar a régua de integridade do seu órgão ou da sua empresa fornecedora do governo, a hora é agora. A Solarplex está pronta para caminhar com você, da avaliação inicial à auditoria final.
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